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terça-feira, 12 de fevereiro de 2013

Vozes!

Vozes

-Capítulo 4 – Dores aplacadas

POV Bella

Aquele beijo aplacara toda a dor que havia em meu peito, colocara em meu ser um pouco de emoção e vida. Por um momento me veio a mente meu amado James, tinha que procurar notícias dele, tinha que conseguir a guarda de meu irmão o quanto antes.

_Edward. –eu chamei-o atenção e ele olhou logo em seguida.

_Sim? –ele disse.

_Tenho um irmão, se chama James. –eu falei baixo, olhando pra janela.

_Verdade? E onde ele está? Deveria estar com você, não? –ele me bombardeou com perguntas, num tom calmo.

_Ele está sobre a guarda do governo, preciso de algum advogado para pedir sua guarda. –eu disse.

_Posso ajuda-la nisso. –ele disse.

_Não quero nenhuma ajuda desse tipo. –eu disse incisivamente.

Ele sorriu leve e continuou a me olhar.

_Bella, tudo bem, se você quer deixar seu irmão a mercê da justiça, quando tem uma pessoa que a pode ajudar nisso. –ele disse.

_Edward..-eu falei baixo seu nome. – Eu posso muito bem arrumar um emprego e conseguir dinheiro pra pagar um advogado pra isso, antes de você eu conseguia viver. –eu disse.

_E além de quê, eu não vejo razão pra confiar em você, um homem que me raptou de minha própria casa, no qual nem o conheço direito.

_Eu a ajudei na hora em que mais necessitava nada mais acolhedor e gratificante acabar confiando em mim, não acha? –ele me questionou, me olhando no fundo de meus olhos e me fazendo perder o fio da meada de todos os meus pensamentos crescentes, que me suscitaram naquele momento.

Suspirei baixo e mordisquei levemente o lábio inferior, com uma simples pergunta ele fazia todo meu mundo desmoronar, só me restava juntar todos os cacos dos meus pensamentos e voltar a construí-los, já que ele fazia isso comigo.
Bufei, já estava ficando um saco isso. - pensei comigo mesma.
Nunca gostei de perder meu controle ou de demonstrar meus sentimentos, eles me faziam ser frágil, coisa que eu nunca queria ser interpretada. Sempre fui uma vítima na vida, mas nunca fizera teatrinho e cena e deixara os outros verem isso. Sempre fui a durona, aquela que nunca deixou uma lágrima rolar por meu rosto, aquela não se deixara abalar na frente dos outros, nas costas dos outros, entre quatro paredes, o mundo se desmoronava e eu mostrava quem eu realmente era, a garota-mulher frágil e traumatizada.
Edward se levantou da cama e foi pra perto da janela, olhar a vista e pensar sobre alguma coisa. Virou-se e ficou a me olhar com o pensamento longe.

_Deixe lhe ajudar, posso trazer seu irmão de volta ainda essa semana. –ele falou baixo.

_Edward..-suspirei baixo e abaixei minha cabeça. Tinha orgulho o suficiente pra não aceitar, mas precisaria engoli-lo se quisesse realmente meu James bem ao invés de ficar preso sobre a guarda do governo.

_Se me arrumar um emprego em pouco tempo consigo a quantia de que necessito. –eu falei.

Ele se aproximou de mim, notei seus passos pelo quarto e levantou meu rosto com sua mão, me olhou nos olhos e disse: _Aceite minha ajuda, depois você me paga com um emprego, será mais rápido se aceitar.

_Edward..-disse seu nome, quase aceitando, diante daquilo.

_Só aceite. –ele sussurrou.

_Tá..-falei quase inaudivelmente.

_Vai ver que sua escolha será a melhor. –ele disse e beijou o alto de minha face.

Agora contava com a ajuda de Edward para conseguir a tutela de seu irmão, não gostara de aceitar isso, nem de engolir seu orgulho para enfim ter James de volta a sua vida, mas para o melhor do garoto eu precisava ter que abrir mão disso ou se não James sofreria mais traumas na mão do governo, o que eu de nenhuma maneira queria ao meu amado James. Suspirei e crispei minha face, logo olhando para Edward.

_É um anjo, mais alguma informação importante na qual eu precise saber? –eu perguntei.

_Tenho uma vida estável em New York, digamos que tenho um emprego no qual eu consiga dinheiro suficiente para arcar com todo o custo de vida na qual vivo. –ele disse.

_Seus pais são anjos? –perguntei novamente.

_Sim e como sabe moram em Maryland. –ele disse.

_Não gosta de falar deles? –perguntei, olhando-o.

_De forma alguma, só não gosto de falar da minha origem angelical. –ele disse apaticamente.

_E você? Só sei de seu nome e de nada mais. –ele disse, me estimulando a contar algo de mim.

_Vai continuar a ficar sem saber e quando necessário te contarei. –eu disse, ajeitando a barra da minha calça distraidamente.

_Bella ..sabe que necessito saber de certas coisas pro seu próprio bem, não foi a toa que te tirei daquela casa, preciso saber como e desde quando anda tendo essas possessões. –ele falou, me olhando.

Levantei o olhar e o olhei nos olhos.

_Tenho a opção de manter isso para mim, não Edward? –perguntei retoricamente, fazendo-o bufar.

_Se prefere vir a sofrer isso pelo resto de sua vida, sim Bella, pode manter isso. –ele disse.

_Já me acostumei com o fato de que nasci só para que os espíritos depositassem em mim todo tipo de mal. - eu falei baixo.

_Podemos mudar essa situação, se não sabe isso tem cura. –ele disse se aproximando de mim e pegando minha mão e entrelaçando a dele.

_Pelo que sei isso não tem cura, não é um simples machucado físico, Edward, é uma maldição que carrego. –eu sussurrei próximo ao seu rosto.

_Sei que não é simples, mas tem cura e podemos reverter essa situação. –ele beijou singelamente meus lábios.

Estremeci levemente com seu toque em meus lábios, colocou a mão na minha nuca e me aproximou mais, deixando nossos lábios roçarem e me provocando leves arrepios. Senti-o cheirar minha pele e suspirar baixo, se controlando. Depositou um selinho em meus lábios e ficou a fitar meus olhos, suas orbes verdes se moldavam as minhas, tornando-se uma só. Logo a atmosfera do ambiente se moldara a nossa situação e sentia leves faíscas flecharem meu corpo. Tudo aquilo, aquele mundo de sensações novas me entorpecia por completo, me deixava leve, feliz. Sorri de lado, enquanto ele puxava meu lábio inferior e ele parou me olhando em seguida, curioso.

_O que foi? –ele sussurrou, com a voz rouca, notando que ele também se afetava com isso.

_Nada..só gosto quando ficamos assim. –eu sussurrei, fazendo-o sorrir também.

_Gosta? –ele me perguntou dando-me mais um selinho, dessa vez rápido.

_Gosto, porque haveria de não gostar? –eu disse, sorrindo.

_Sei lá..sempre é tão fechada. –ele disse.

_A vida me fez assim. –eu falei.

_Não deixe que a mesma te mude por toda a vida. –ele completou.

_Não sou forte o suficiente, Edward. Tudo que passo é a prova concreta de que sou frágil. –admiti muito triste.

_Posso lhe ajudar, juntos você consegue. –ele disse, apertando minha mão a dele, me dando apoio.

Balancei minha cabeça positivamente e ele me abraçou.

_Agora me fale de sua vida e como começou a ter essas possessões. –ele falou.

_Edward..-eu reclamei, saindo de seu abraço.

_Me conte Bella. –ele disse, me olhando.

_Tudo bem. –eu aceitei apática.

POV Edward

Esperava que Bella enfim me contasse de sua vida e me explicasse todo o desenrolar de sua luta pela sobrevivência. Ela não gostara de aceitar aquilo e nem muito menos ter que aceitar minha ajuda para conseguir ter a tutela de seu irmão James, mas o fez para o próprio bem dele. Percebera também o quanto ela amava seu irmão, James. Nunca vira tamanho amor, em nenhuma família e notara isso com Bella por James. Teria o prazer de tirá-lo das mãos do governo e dá-lo a Bella de volta. Sentou-se mais confortavelmente na cama e deixou ela se acomodar também para me contar de sua vida. Vi quando ela suspirou e me olhou.

_Tudo começou em Nashville, nasci lá, cresci lá e vivi um bom tempo em uma cidadezinha desse estado. Vivia com minha mãe, meu pai e meu irmão James. Meu pai Charlie começou a me abusar aos 7 anos de idade e só parou quando eu fugi de casa aos 17 anos. Minha mãe no meio disso, assistia a tudo inerte, sem nada fazer, tinha medo de que alguém soubesse ou de que perdesse o marido e ficasse sem casa. Meu irmão de nada sabia e viveu sua infância como tinha que ser. –ela falava baixo e hora ou outra passava a mão no cabelo e deixava sua franja cobrindo seu rosto.

_Ele era muito violento? –eu perguntei.

_Muito, não imagina o quanto. Teve uma noite que foi tão brutal que ele me espancou no quintal de casa, me abusou e depois me deixou lá, no chão, no frio, completamente sem forças. Minha mãe que se acordou logo cedo do outro dia viu e me tirou de lá, deveria ter uns 17 anos e depois disso minha mãe faleceu, foi aí que decidi fugir com meu irmão, mas o governo logo me achou e me tomou James, descobri que meu pai tinha falecido logo após vir pra New York e foi aí que soube o porquê dos espíritos se manifestarem em minha vida, a causa era ele e sempre foi. –ela falou baixo.

_Tem certeza de que ele sempre foi a causa pra isso tudo se desencadear? –perguntei ainda a olhando, chocado em partes, por enfim ter descoberto a triste vida de Bella.

_Absoluta, antes mesmo de ele morrer e quando eu morava no mesmo teto que ele, tinha algumas alucinações, não eram tão fortes e tão violentas quanto as atuais, mas eu já começava a ter e sempre após ele me abusar. –ela disse agora me encarando. -Avisei que minha história não era nada agradável. –ela concluiu.

Logo mudei minha expressão facial, algo que tinha expressado ela percebeu e comentou. Olhei pela janela, querendo dissimular a torrente de energia que sentia no momento. Bella havia e ainda sofria muito, uma infinidade de espíritos, vozes e maldade a entranhava, sem nenhuma culpa sem nenhuma permissão eles invadiam sua mente, sua vida e a devastava por completo. Realmente não era nada agradável, mas em nenhum momento quando ela me relatava tive o pensamento de deixa-la, nunca. Antes se eu tinha o instinto de protegê-la, agora mais do que nunca tinha a certeza, a intenção real de ajuda-la nisso, de protegê-la ao máximo, com todas as minhas forças, nem que pra isso eu utilizasse meus dons sobrenaturais de anjo, mas eu protegeria a pessoa que a cada dia que passa permeia meu coração e enche minha mente de pensamentos frutíferos de amor.

Virei meu rosto e a olhei novamente, sorri para ela e ofereci minha mão, ela aceitou e pegou-a, entrelacei sua mão a minha e nos levantamos da cama. Abracei-a por trás e guiei-a até a janela do quarto, beijei seu pescoço e firmei suas mãos entrelaçadas as minhas em sua cintura. Perdido em pensamentos dos mais insanos aos mais calmos, aos mais felizes e arrebatadores nós olhávamos pela janela e cogitávamos planos para as próximas semanas, porque a partir de agora seria guerra, batalha após batalha e eu contava com o sobrenatural mais uma vez para vencer isso tudo.

POV Bella

Abraçada a Edward pensava em uma alternativa que vingasse no meio dessa escuridão, que trouxesse meu James de volta. A tristeza e as saudades por ele aumentara e me sufocara naquele momento. Suspirei baixo e encostei meu rosto no peito de Edward, ele percebera e levantou meu rosto, me olhando nos olhos, os mesmos que para mim eram um mar de acalanto, de alívio, de alegria, daquelas de criança, onde aquele pequenino ser ficava feliz com as pequenas coisas, com os pequenos detalhes cravados nas areias de uma praia, logo construindo um castelozinho de areia, nas gramas de um Central Park da vida, em um parque de diversões em qualquer canto do mundo, todos eles não valiam de nada perto de Edward, só seus olhos eram a minha única alegria, na qual eu podia suspirar e sorrir como uma idiota.
Não acreditava em quanto o destino gostava de revirar sua vida e colocar em seu caminho algo tão surpreendente, num momento estava coberta de escuridão e sabia que ainda estava margeada por espíritos, mas agora contava com a pureza, a luz de um anjo, de um amor em ascensão. Ele me beijou carinhosamente e sorriu para mim o sorriso no qual eu morreria se não estivesse tão cheia de problemas, no qual fazia todas as borboletas mortas no meu estômago enfim renascerem, ressurgirem feito uma fênix, das cinzas. Ele me levou até a cama e me fez deitar, não estava com sono, mas estava cansada e precisava descansar para o próximo dia que com certeza não seria tão agradável quanto hoje. Deitei minha cabeça no macio travesseiro que parecia uma nuvem dispersa sob minha cabeça e antes que fechasse os olhos, pude sentir Edward atrás de mim, deitado ao meu lado, segurando minha cintura e beijando meu pescoço, sorri gostoso e segurei sua mão que estava no meu quadril, entrelacei-a a minha e enfim deixei meus olhos enfim penderem, fechando-os e caindo em um sono profundo e sem sonhos.

POV Edward

Fiz Bella se deitar na cama e logo em seguida me deitei ao seu lado, entrelaçando nossas mãos rentes a sua cintura, beijei seu pescoço e desejei-lhe uma boa noite. Fechei meus olhos e uma grande massa de cansaço enfim se instalou no meu corpo e suspirei relaxando meu corpo. Adormeci após alguns longos minutos e entrei em um mundo de sonhos inférteis no quais não vingaram muito em minha mente.

POV Bella

Uma leve luminosidade batia nas minhas pálpebras e aos poucos recobrei minha consciência, resquícios de sonhos inacabados e sem chance de serem construídos passavam por minha mente superficialmente, abri os olhos lentamente e quando enfim abri-os encontrei os mesmo pares de orbes esmeraldas que faziam todo meu corpo estremecer, aquele mero olhar de Edward era destruidor de corpos, de almas, de vidas. Sorri abertamente fazendo-o sorrir junto comigo, logo me dando um beijo carinhoso e acariciou as maças do meu rosto.

_Bom dia, Bella. –ele sussurrou contra a pele da minha orelha, me fazendo arrepiar involuntariamente.

_Bom dia, Edward. –eu falei tremulamente, fazendo-o perceber meus sintomas por aquela aproximação.

_Está tudo bem? –ele perguntou, arqueando uma sobrancelha, me analisando, enquanto afagava meus cabelos.

_Não. Estou ótima. –eu respondi muito rápido, fazendo ele rir baixo, ri nervosa junto com ele.

_Não precisa mentir Bella. Pode me falar a verdade, se estiver incomodada com tamanha aproximação, posso muito bem me afastar um pouco e te dar um pouco de espaço.

_É que nunca estive assim com um homem, preciso me acostumar com isso. –eu falei, corando levemente e fazendo-o rir baixo.

_Aos poucos se acostumará comigo, será mais fácil do que imagina. –ele disse, me dando mais um selinho naquela manhã, onde o sol morno permeava as janelas e demonstrava sua luminosidade crescente.

_Mudando de assunto..o que vai fazer para reaver a guarda do meu irmão? –eu perguntei, olhando-o.

_Como meu pai é do ramo de advocacia e eu também fica bem mais fácil conseguir a tutela do seu irmão, Carlisle tem contatos e pode conseguir a guarda do seu irmão mais rapidamente. –ele falou baixo.

_E porque não está com sua família? Sei que não gosta de sua natureza, mas são seus pais, bem melhores que os meus..-eu disse.

_Digamos que eu tenha alguns pequenos desentendimentos com meu pai, odeio o fato de me distanciar de minha adorável mãe, mas ele vive ao lado dela. –ele disse olhando para o lado e evitando meu olhar.

_Não gosta de falar disso? Se quiser paramos aqui. –eu sussurrei, pegando sua mão e segurando na minha.

_Não, tudo bem. –ele sorriu e voltou a encontrar meu olhar.

–Só aconteceram certas coisas que não valem a pena serem relembradas. –ele concluiu com um peso no olhar.

_Tudo bem, Edward. Não tem que me dizer nada, só quero apenas que se sinta confortável e se não está pare agora, ok? –eu disse, olhando-o nos olhos.

_Devo isso a você, porque me revelou algo de que não gostava de contar a ninguém. –ele disse.

_Mas era necessário, a sua não é. –eu disse.

_Mas eu devo mesmo assim, Bella.

Juntos, rosto contra rosto, nós ficamos parados ali esperando um motivo para sairmos do quarto e retornamos ao mundo real, mundo esse no qual necessitava de nossas presenças.

Continua no próximo capítulo. -

Vozes!

Vozes

-Capítulo 3 – Olhos de Ressaca

POV Edward

Saímos do elevador e levei-a até o meu antigo apartamento. Abri a porta para ela e deixei-a entrar, estava tudo em seu devido lugar, mas ela estava quieta, nem sua respiração e o compasso de seu ritmo cardíaco podia sentir.
Estávamos em um silêncio mortal, ela se sentou na poltrona e coloquei a mochila de roupas dela no sofá, me sentei também e fiquei a fita-la.
Que olhos eram aqueles, Jesus, pensei comigo mesmo, aqueles castanhos chocolates se derretiam a cada vez que a olhava, parecia uma canção de sereia, me prendia em suas orbes castanhas e só me soltava quando ela queria. Ela me olhava enigmaticamente, levantou a sobrancelha e continuou a me olhar, como se quisesse me desafiar só com aquele sórdido olhar. Aquele mesmo que me rendia todas as vezes que nossas orbes se encontravam. Aquele mesmo olhar feroz, agressivo, preenchedor de lacunas em minha mente. Olhar esse cheio de profundidade, de essência, de significados nos quais eu pretendia todos eles desvendar.
Quem diria que uma pequenina garota fosse ter um olhar tão encantador, tão atraente, realmente seu olhar era demasiadamente uma verdadeira hipnose, poderia ficar a fita-los centenas de vezes e nunca me cansaria. Olhos de ressaca, que como o mar bravio, passava agitado por meu olhar e me trazia para ela. Trazia-me para um mundo completamente novo, um mundo só nosso, um universo lapidado a mão e ao mesmo tempo quando ela deixava de me prender com seu olhar me deixava cheio de incertezas, cheio de dúvidas, disposto a soluciona-los num próximo encontro de olhar. Suas íris achocolatadas, seus cílios curvados batiam freneticamente e num ritmo compassado. Podia perceber que suas pálpebras estavam um tanto quanto roxas, cicatrizes naturais de umas possíveis noites insones.
Perguntei-me a quanto tempo ela vinha tendo possessões. Crispei minha face formando algumas rugas de expressão, ela não gostava de falar disso, mas precisávamos conversar sobre esse assunto. Assim poderia ajuda-la realmente. Seu pai, Carlisle, sabia muito de demônios e anjos caídos, por ser um arcanjo, herdei dele isso e sou um anjo.
Minha mãe e meu pai são arcanjos e habitam a terra desde muito tempo, possuem o dom natural de esconder sua velhice com o privilegio da imortalidade. Escondem através de sorrisos e bom humor, proveniente dos anjos, a idade deles.
Nunca aceitei o fato de não ser um humano e sim um anjo. Talvez por isso vivo sozinho e aos poucos minha mãe me diz que me tornarei um anjo caído. Nova York está cheia de demônios, anjos caídos e espíritos malditos, uma constante ameaça para alguém que é puro como um anjo.
Meus pais vivem em Maryland, uma cidadezinha perto de Washington, nada como um lugar pacato e bonito de se viver para anjos. Mas nunca quis ficar lá por toda a eternidade e por isso vim pra New York, meu pai tinha negócios aqui e também vim com esse intuito, mais um motivo para vir pra cá. Não queria seguir os negócios do meu pai, queria seguir o meu próprio, queria ser fotógrafo. Fez faculdade para isso e hoje tem um emprego fixo em uma empresa de publicidade. Fotografa jovens modelos e quando está em tempo livre fotografa as pessoas, a paisagem contemporânea, os arranha-céus, dos mais modernos para os mais antigos, como o clássico Empire State Building, o Central Park com sua nostalgia envolta em casais de velhinhos sentados em bancos olhando o pôr do sol, o possível crepúsculo que serpenteia todos os fins de tarde naquela cidade movimentada, as crianças brincando distraidamente enquanto a majestade solar os atinge.
Tudo naquela cidade me inebriava, era apaixonado por New York. Mas não tanto quanto sua imensa paixão por Londres passara alguns meses lá só para estudos em Direito, mas teve que voltar a Nova York, mas logo logo pretendia voltar, adorava o clima boêmio da cidade, tudo ali transpirava inteligência. Tudo ali era muito cheio de vida, muitas energias juntas, conectadas, vários eletrodos formando uma imensa corrente.

POV Bella

Entrei no apartamento daquele estranho e me sentei na poltrona próxima da porta. Vi ele deixar minha mochila de roupas no sofá e se sentar também, continuava a me encarar e resolvi encará-lo também, afinal eu não gostava de ser encarada, nunca na minha vida gostei. Minha mãe dizia que eu era um livro aberto após olhar os meus olhos e ele não parava de olhar nos meus. Suas orbes esmeraldas me fitavam enigmaticamente, tentando me desvendar, conseguiria até.

_Não quer alguma coisa? Água, café, algum lanche? –ele perguntou em sua voz perfeita. Fiquei tão perdida que demorou alguns segundos para que eu pudesse respondê-lo.

_Não, obrigada. Já não basta me trazer a força pra sua casa? –eu perguntei retoricamente, repuxando meus lábios e formando uma careta em seguida.

Ele passou a mão distraidamente pelos cabelos e abaixou a cabeça, suspirando. Levantou a cabeça novamente e voltou a me olhar.

_Desculpe, mas te tirei do seu apartamento por motivos de força maior. Não quero deixar de ajudar o próximo sabendo que se deixasse você lá poderia rapidamente morrer. –ele discursou numa voz triste.

_Nem me conhece e já se importa comigo? –eu perguntei, demonstrando minha curiosidade.

_Não é necessário conhecer para se importar. Sou um anjo e sei muito bem das coisas pelo que passa e poderia ajuda-la a curar esse mal que tem. –ele disse numa voz impaciente, se remexeu no sofá e tirou seu celular do bolso, vendo alguma mensagem de texto ou ligação perdida, fez uma careta suave em seu rosto esculpido por deuses e voltou a fixar seu olhar no meu.

_O mal que tenho não tem cura e já aceitei isso, não venha você me fazer criar falsas expectativas. –eu disse me encolhendo na poltrona.

_Deixe o pessimismo de lado, ao menos comigo, a partir de agora tudo vai mudar, verá. –ele disse olhando para mim e esboçando um suave sorriso, a luminosidade daquele lugar refletia nos seus dentes branquíssimos e brilhantes, seus cabelos castanhos claros com pontas loiras realçavam ainda mais aquele rosto angelical.

Podia-se notar também a barba recém feita, instintivamente senti vontade de passar as mãos ali, sentir aquela pele levemente áspera ..respirou fundo audivelmente, fazendo ele notar sua perícia observação.
Continuou a me olhar, só que agora seus olhares eram de pura luxúria, chamuscava em minha pele como brasa, senti o meu consequente rubor aquecer todo meu rosto e abaixei minha cabeça.
Droga!
Era pra ter sido mais discreta ao observá-lo, agora ele me lançava olhares bravios, que incendiavam todo o meu corpo, sensações que nunca ousara sentir, deixei minha franja repousar pelo meu rosto, bloqueando sua visão na minha, ele bufou demonstrando sua irritação pelo meu gesto de timidez e se levantou abruptamente. Pegou minha mochila e caminhou a passos surdos até um dos cômodos daquele apartamento. Tinha certo luxo, os sofás eram cinzas, a poltrona era bem acolchoada, o carpete era mogno escuro e estava tão encerado que chegava a reluzir pela sala iluminada pelas paredes laterais de vidro. Outra coisa que me chamou muita atenção foram aquelas paredes envidraçadas até o chão do apartamento, a vista era privilegiada, assistia sentada na poltrona os arranha-céus modernos de New York.
Estávamos em uma das melhores regiões dessa metrópole, suspirei baixo e me recordei de que tudo isso não me pertencia e sim a aquele homem estranho que havia raptado a.
Edward Cullen ...um nome incomum no meio daquela modernidade toda, antigo e arcaico eu diria. Devia vir de família, tradição.. Dissera que era um anjo, ficou boquiaberta por uns instantes, não acreditava que mais uma vez o sobrenatural a rodeava.
Será possível que essa droga nunca me deixava? Já não bastava eu ter que conviver com isso pelo resto de minha vida, agora teria que viver com um anjo?!
Levantei-me da poltrona e fui até as paredes de vidro, fiquei a olhar a vista, admirando-a silenciosamente. Encostou a face no vidro gelado pelo clima frio e se deixou relaxar um pouco. Escutou passos virem até ela e se virou rápido demais, fazendo com que uma vertigem a abalasse, ainda assim não chegou a cair no chão, porque Edward a pegou a tempo. Pontos pretos imperavam em sua visão e era difícil respirar e pensar com exatidão, se deixou levar por ele e sentia no ar um cheiro de mel que a inebriava por completo. Sentiu mãos protetoras e firmes a segurarem, uma espécie de couro envelhecido estava contra sua pele, revelando a jaqueta de couro que ele usava.
Sentiu uma mão morna passar por seu rosto, queria reagir, mas estava sem forças para voltar a consciência. Parecia uma esfera de vidro, na qual eu não tinha forças suficientes para abrir os olhos, o som ininterrupto das batidas do coração dele me levava a um equilíbrio suave, no ritmo das cavalgadas por um campo eu voltava a consciência.
Abrir os olhos fora uma tarefa difícil, pareciam que estavam colados, sentia uma luz proveniente de alguma janela reluzir por suas pálpebras fazendo enxergar alguns pontos de luz. Quando conseguiu enfim abrir suas orbes viu o rosto do mesmo homem que havia retirado de sua casa, se assustou por um momento e se levantou abruptamente, fazendo com que os rosto dos dois se chocassem e uma esfera de calor e pura paixão assolasse aos dois, narizes contra narizes, corpo contra corpo, boca roçando uma a outra, fora o suficiente para que todo aquele universo perto deles não mais existisse e sim um novo estado de torpor e prazer havia sido criado entre eles, o mundo paralelo estava a todo vapor, centenas de pessoas caminhavam rapidamente para seus trabalhos, o sol se punha, nuvens se abriam para que se pudesse contemplar o crepúsculo crescente.
Suas bocas enfim encontraram uma a outra e selaram o mais perfeito gesto de amor entre um casal, não fora um simples beijo, Edward sugava lentamente os lábios de Bella enquanto a segurava pela cintura, trazendo-a para mais perto do seu corpo febril, o coração de Bella almejava as alturas, seus batimentos cardíacos podiam ser sentidos por Edward com sua audição aguçada. Sua língua pedia passagem e Bella logo a dava, explorando cada ponto inexplorado e desconhecido para Edward. Em um breve roçar de faces aqueles dois transformaram completamente a esfera daquele lugar, agiam instintivamente, se deixavam levar.
Bella correspondia astutamente ao beijo, mostrando ser ousada chegou até a mordiscar a língua de seu amado, tirando seu fôlego por completo. A respiração de ambos por um momento se estabilizou, mas quando os beijos não mais tinham fim foi o único som existente naquele quarto. A frequência cardíaca de ambos era preenchida pelo mais puro sabor, era o som mais predominante entre eles. Edward estava tão sem noção das coisas que se deitou sobre ela, ainda a beijando, desceu os lábios molhados e cálidos pela pele pálida e macia do pescoço de Bella, beijou-o copiosamente e após isso deu leves mordiscadas e chupadas suaves, não queria deixar nenhuma marca naquela pele perfeita. Ao sentir aquilo Bella suspirou alto e reprimiu um grito de surpresa por ele ter feito algo tão íntimo, mordendo os lábios com força, chegou a sentir o gosto salgado de seu sangue na boca. Edward logo voltou para seus lábios e a beijou devagar e sem nenhuma pressa, em câmera lenta refazia o mesmo percurso que fizera anteriormente.
Bella incendiava por dentro e por fora, seu corpo estava na temperatura dele, quente, febril, no fogo exterminador da paixão que os acometia ao primeiro ato insano dos dois. A loucura os preenchia, fazendo com que os dois fizessem aquelas coisas sem pensar. Edward por fim finalizou os beijos intermináveis que dava a Bella com vários selinhos demorados e se demorou no último deles ao puxar o lábio inferior dela e a olhar nos olhos, a mesma o encarava num olhar arrebatador de almas, não era mais o olhar assustado de uma garota que sofrera ao longo de sua vida, era Bella a La Passione ..era Bella no entorpecer dos seus lábios vazios e febris sem os lábios do seu amado para se moldarem.
Fora a mesma que havia a anos se conformado de que o amor nunca ousaria entrar em sua vida, a não ser com seu irmão James e agora podia desfrutar de um dos mais brilhantes e sufocantes sentimentos: o amor. O mesmo que a deixava inebriada, o mesmo que tirava seu fôlego, tirava sua consciência, tirava sua sanidade, transformava sua vida.
Edward continuou a encarando e deixou seu rosto repousar no peito dela, a abraçou e Bella em seu torpor particular lentamente abraçou Edward também. Ele levantou o rosto e a olhou silenciosamente, dizem que um olhar vale mais que mil palavras e o dele naquele momento transmitia tudo o que o mesmo queria dizer e não podia ser dito no calor do momento.

_Desculpe..-ele sussurrou roucamente contra a pele do meu rosto.

_Porque não para de se desculpar? Eu também quis isso, Edward. –eu falei quase que sussurrando e olhando nos olhos dele.

Ele sorriu torto, o mesmo sorriso que há tempos me encantava sempre. Abraçou-me e mordisquei seu ombro, rindo baixo.

_Sua mordedora! –ele me xingou, beijando minha bochecha e a mordendo em seguida. Sorri abertamente, rindo logo em seguida e disse: _Gosto de te morder. –eu disse, ruborizando em seguida e escondendo meu rosto no peito dele.

Ele puxou meu rosto a fim de que ficasse frente a frente a ele, me olhou nos olhos e me deu um selinho, seus lábios roçavam nos meus e toda aquela atmosfera de paixão e amor estava ao redor de nós. Podíamos perder o controle que mesmo assim continuaríamos ali, seus lábios eram um vício terreno para mim, quanto mais eu puxava seus cabelos bagunçados, ele apertava seu corpo contra o meu. Nossos corpos estavam a mil, latejando um contra o outro. Calor contra calor, vida contra vida, paixão contra paixão.
Foi assim que eu pude saber o quanto aquele anjo roubara meu coração – de uma maneira completamente arrebatadora -, um novo sentimento criava raízes em meu coração, o mesmo no qual eu nunca havia sentido por mais ninguém. O mesmo que fazia com que meu corpo formigasse só de ficar ao lado do corpo dele, só de roçar seus lábios aos meus, tudo nele se transformara num vício, numa droga.

_Edward..-eu sussurrei contra a pele dos lábios dele.

Nossas respirações davam claros sinais de hiperventilação e tudo aquilo era muito irresistível.

_Me diga seu nome..-ele sussurrou rouco, me fazendo arrepiar.

_Bella ..Isabella. –fiz uma careta depois de ter pronunciado meu próprio nome.

Ele sorriu de lado, percebendo minha apatia pelo meu nome e voltou a me beijar.

Continua no próximo capítulo. -

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