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segunda-feira, 17 de setembro de 2012

Críticas sobre o filme "Cosmopolis" !


Um Filme no qual Robert Pattinson conversa com um empregado enquando faz um exame retal
Cosmópolis não é na verdade, um retorno ao estilo Cronenberg. E não sinto muito em dizer isto, embora ele represente uma evolução no estilo, temas e abordagens que ele cultivou através de filmes como Videodrome ( Videodrome – A Síndrome do Vídeo) e eXistenZ. Este, talvez mais até do que os outros, está preocupado com a incerteza da nossa civilização. É um filme enriquecedor e não está preocupado se você irá entendê-lo ou não. A maioria das pessoas não entenderão e não vão se esforçar pra isso. Eles serão lançados em meio a uma discussão, técnica (mas poética) na maior parte do tempo. Críticos demagogos vão dizer coisas do tipo: “E a história? Cadê?” ou “É só filosofia 101”. Eles irão ignorar ou rejeitar Cosmópolis, como quase todo mundo.  Este filme  praticamente não foi feito para  pessoas que tem a pretensão de vomitarem palavras, como se elas soubessem seu significado.
Além disso, é algo que mais se aproxima de uma perfeita adaptação de William Gibson que eu já tenha visto.  E se você gosta de Gibson e Cronenberg, então Cosmópolis vai Fu*er sua cabeça e girá-la como um peão.
Não sou um crítico demagogo.  Não dependo de um pobre e cansado ‘Lexicon’ (dicionário americano), frases clichês para descrever filmes. Eu geralmente fico longe de coisas do tipo “passeios com emoções fortes, adrenalina, montanha russa ou “atuação entediante”. Eu quero dizer à você, porque alguma coisa é excitante ou entediante. Estou interessado em entender como eles fazem os filmes e explicar isso aos outros de uma maneira que não seja óbvia. Em outras palavras, quero expor pensamentos claros, pensamentos que não dependam do que eu conheço ou de minhas preferências ou da história para entender. Cosmópolis é o tipo de filme feito para pensadores críticos que sabem como prestar atenção. Há uma escola de filosofia que diz: “Se é muito complicado de entender, a culpa é do autor(s).” Este é o tipo de trabalho criativo de  virar esta merda estúpida na cabeça. De qualquer forma, debater o filme, suas impressões, não é complicado, são as idéias que o são e se você achar as idéias complicadas, tudo que eu posso dizer é, leia mais. Funcionou pra mim.


Este filme vai mudar a mentalidade sobre Pattinson, qualquer um vai se interessar em vê-lo
Há uma pilha de temáticas simultâneas em Cosmópolis. A idéia de ordem e caos está presente em todo o lugar e de modo casual um dá lugar ao outro.  O elemento biológico é apresentado de modo mais sutil e absurdo aqui do que nos filmes anteriores de Cronenberg.  As necessidades do corpo por comida e sexo  são  tratados de modo automático enquanto as obrigações mais profundas (mas ainda bioquímicas) começam a conduzir não só a narrativa, mas o dia de Eric Packer (Robert Pattinson).  A medida que  suas necessidades  vão sendo atendidas  de modo alternado, ele vai sempre a procura de algo mais, buscando desvendar Deus.
Meu amigo disse que este filme é sobre pessoas que se transformam em computadores. Não é exatamente isso, mas chega perto. Eric Packer é o mais jovem magnata de alto nível e ágil  investidor da empresa na cidade de NY. Ele fisicamente está 5 a 10 anos à frente, no futuro, e intelectualmente, mais 5 a 10 anos.  Como o pós-cyberpunk Patrick Bateman, Packer anda por aí sem realmente ligar para nada. “Eu sei isso” e “eu entendo isso” são as suas ladainhas. Ele fica chocado quando  não prevê algo e sua busca por novidade no cotidiano de sua vida é patológico. Seu mundo se resume em construir, gerir e controlar. Ele passa a maior parte de seu tempo em uma limusine, com todas as comodidades, exceto as pessoas, que ele sai agarrando por aí . Ele é o tipo do rico safado fudid*  que a nossa geração vai criar.  Ele é o Mark Zuckerberg de 2020. O problema é que o mundo nunca está sob controle e vão encontrar maneiras de fazer você se lembrar disso
O filme mostra um dia inteiro de  Packer  se movimentando em uma limusine de alta tecnologia, conversando com funcionários e parceiros interpretados por diversas pessoas  como Jay Baruchel (Shiner) e Juliette Binoche (Didi Fancher) . Samantha Morton (Vija Kinsky) também mostra-se soberana com sua ‘Teoria da Liderança‘ com uma sequência de diálogos que é, simultaneamente, cheia de nuances, filosoficamente desafiadora e profundamente curiosa. Há muito cérebro por trás do romance original e da forma como foi elaborado o script, onde as ideias surgem de todos os lados em um ritmo constante do desconhecido mas com uma conjectura, teoria e técnica, fascinantes. Embora este falatório esteja recheado de um vocabulário  e conceitos um tanto difíceis, ambos no desajuste e solidez,  existe  uma poesia na qual os atores se apóiam.
Packer tem uma série de estranhos  encontros forçados, com sua recente esposa, uma poetisa cuja fala é tão fascinante e precisa quanto a dele. Eles são um ponto alto do filme.
Precisão é tudo no mundo de Packer. Todas as pessoas ao seu redor são completamente precisas. Ele próprio é completamente preciso. Isto é porque a informação é precisa. No filme, a informação é o dinheiro e o homem que processa as informações computacionais se cerca de outros meios e estruturas  que facilitem o processamento delas. É o transhumanismo sem  os implantes cibernéticos, o que representa um pouco da abordagem e habitual interesse de Cronenberg  contidos nas implicações da nossa fusão com a tecnologia.
Como já disse, o filme se passa um pouco no futuro, onde a especulação pelo Ien Chinês é a grande e mais recente aposta financeira da super poderosa empresa de Packer. É o mundo da mudança de um paradigma informal rígido, onde o capitalismo está com força total, mas as pessoas começam a ficar descontentes com ele.  Ainda que este seja o tema, isto é tudo plano de fundo.  O filme se baseia na busca por respostas entre a precisão e a intuição, o pensamento autêntico contra o sentimento autêntico. Há uma curva temática no filme que leva do preciso ao impreciso, do técnico para o filosófico. O filme começa muito bem estruturado e em alguns aspectos, quase repetitivos, inesperadamente excede os limites
O mundo de Packer está a beira do abismo. Um reflexo de seu próprio estado mental.
Cosmópolis não é um filme triste. Há um certo absurdo percorrendo ele todo, especialmente em repetidas tentativas de Packer em se unir com sua esposa ou se relacionar com as pessoas ao seu redor (especialmente o exame retal). Seu ponto decisivo não vem da ameaça à si mesmo ou à sua empresa, mas quando ele descobre que seu astro favorito, o sufi do rap, interpretado por K’naan,  havia morrido. Após isso, Packer caminha sem reservas e seu comportamento é cada vez mais instável, até que ele finalmente é forçado a confrontar a verdade narcisista: sua auto destruição, porque ele não estava certo sobre o ien, e ele não estava certo sobre o ien porque ele está com uma fixação pela simetria e ordem e que não reflete a vida. O que determina a vida. É o domínio da tecnologia, essa informação, e esse capital, para impor uma estrutura contra essa loucura insistente que invade tudo. A revelação aparece na minha seqüência favorita do filme, onde Packer confronta o homem  desajeitado que está tentando matá-lo. Paul Giamatti tirou seu ‘A +’ interpretando um personagem que apesar de desleixado tem a intuição necessária para enxergar qual é o problema de Packer. É um pouco da maravilhosa dialética, como toda ela no filme, e a coisa termina com uma forte e improvável observação. ( um tanto ambígua).
O filme passa algum tempo meditando sobre a violência
Eu gostaria de poder dispor de uma análise mais clara e construtiva do que eu tenho. É difícil manter todos os segmentos separados. Este é um filme de observações sérias sobre muitos aspectos da condição humana para escrever em apenas uma revisão. Mesmo que o filme ainda esteja fresco em minha mente, sei que não estou dando atenção suficiente para partes dele. O filme no entanto, não é nenhum mistério. Não é necessário se debruçar sobre o diálogo ou linguagem de sinais para “descobrir”. Ao invés disso, é uma série de discussões ousadas sobre a relação das coisas retornando para o tema central, simples mas elegante: é no conflito entre os extremos que a verdade será encontrada. Para Packer, é a simetria e assimetria, ou precisão e desordem. Mas o filme também está interessado na destruição e criação,  riqueza e pobreza, oportunidade e exploração, e então ele mergulha nos efeitos da disfunção mental na sociedade do bem sucedido para o desafortunado. Na verdade, a cena feita com Giamatti pode muito bem ser dois homens insanos cujas insanidades simplesmente tem valor de mercado diferentes em uma sociedade capitalista.
Acho que as pessoas que irão assistir  e que irão falar disso, encontrarão e se apropriarão de tópicos e acho que a maioria deles vai render um monte de pensamentos, perguntas e reações interessantes. Este é o tipo de filme que você deve se sentar e falar sobre ele depois. Isso não vai funcionar se eu  disser, “Ei, eu gostei,vá vê-lo” ou “Ei, eu não gostei, não vá ver isso”. Não vai funcionar falar sobre as histórias ou três diálogos. Cosmopolis é um filme de reflexões, um diálogo em celulóide, dinâmico e atraentemente filosófico . Com implicações reais para a civilização e o significado das nossas próprias batalhas internas, assim como um bom diálogo filosófico deve ser.
E pode ter certeza, é Fod*.

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